sexta-feira, novembro 14, 2003

Fora de brincadeiras

Agora, fora de brincadeiras, digam-me lá se acreditam na justiça. Não, não era bem isso que eu queria dizer. A justiça até existe, se lhe despirmos a carga moral que lhe vem associada e a encararmos como uma simples linha de causa e efeito. Senão, vejamos. Cai uma árvore e mata alguém que vai a passar. É justo? Se estamos a falar de justiça (a senhora dos olhos vendados), estamos a laborar em erro. Isto porque a árvore podia ser velha, ter caído uma chuvada que lhe minasse as raízes, estar a soprar um vento desgarrado quando a pessoa ia a passar e... Truz! Lá foi a árvore e a pessoa. Causa e efeito. É justo que uma árvore caia nessas circunstâncias, mate um mosquito ou uma pessoa. Que tem isso de extraordinário? Uma coisa: o facto de estarmos convencidos de que podemos eventualmente ter a capacidade de controlar o que se passa à nossa volta e sermos surpreendidos por uma destas. Isso sim, é extraordinário, uma vez que passamos a vida a constatar que não conseguimos controlar coisíssima nenhuma, nem o elementar. É, portanto, muita presunção nossa querer sobrecarregar a justiça com a moral ou qualquer outra estupidez parecida. Moral da história: a justiça existe, nós é que insistimos em não ser justos.

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