sexta-feira, outubro 31, 2003

Eterno fascínio

Há um híbrido absolutamente incontornável: o da mancha com o tédio. E passo a explicar: às manchas da alma fica-lhes a matar um certo tédio, assim a modos que como uma forma de estar neste mundo sem realmente estar, assim tipo Marthe Keller retirada que não resiste a aparecer em público de deslumbrantes véus coberta, para logo de seguida se escapar num táxi sem disfarçar o incómodo que lhe causa o espanto, a admiração e a curiosidade do vulgar transeunte. Percebem? Tipo: se realmente não quer que olhem, para quê os véus, para quê a chamada de atenção, para quê a exaltação? Percebem? Uma espécie de causa e efeito que afinal é mais efeito e causa, estão a ver? O quer-mas-não-quer que é, afinal, o objecto último do eterno fascínio que nos viciamos a provocar nos outros. Assim, também um manto de voluntárias manchas se sente compelido ao exercício de algum tédio para manter acesa a chama do fascínio. Teaser, teaser, teaser, gritava a corista do fundo do palco. The show must go on, reivindicava a prima-dona. Nonsense, nonsense, nonsense, deliciava-se o John Cleese, vivam os Monty Python, Aleluia, louvava o público (esta cena teve lugar num teatro perto de si, transformado num templo do Reino de Deus).

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