quinta-feira, julho 16, 2020

manchas

Continuo a ver manchas e não é a melhor das visões, de facto. Manchas cinzentas ou de cores bastante vivas. Instalam-se no meu campo de visão e já está. Como se não houvesse amanhã.
Um destes dias hei-de apanhar uma, apertá-la com bastante força entre os dedos e depois vamos ver o que tem para me dizer.
Há manchas móveis, outras irritantemente fixas. Não sei, francamente, quais são as piores. Um bocadinho de consideração e não estávamos sequer aqui a tecer estas outras considerações.
Manchas por todos os lados, com se, com frequência, houvesse um lápis azul a esborratar partes da imagem para ver se nos baralham. É só o que vos digo.

segunda-feira, março 01, 2010

deceitful

you can say you
love me and I couldn´t
care less for your
actions do not match
feelings you say you
feel how can
you mouth produce
words so beautiful and
so deceitful so mean
for they make me
feel as if you are
real and that is
only what I wish
a mirrow in front of
my lips speaking
all the words I'd like
to hear

sexta-feira, novembro 27, 2009

coffee foam caprice


We do step out into life like coffee foam, loose caprice believing the unexpected wonders yet to come.

segunda-feira, agosto 10, 2009

Light



This kind of light and the unset waters makes me fell like part of the world. One does not always feel like that.

sexta-feira, julho 31, 2009

when the heart

When the heart (*) is the only thing you can trust you will be easily fooled by your lack of knowledge of what you are all about.
You can be driven to make the wrong decisions because you just don't feel like doing something.
One can never know exactly what you're feeling wrong about for you have so many prejudices in your way and you don't realize what's really the matter.
Take your time to think things through and don't feel compelled to act on your first impulse.

(*) meaning here your guts, not the organ...

quinta-feira, julho 30, 2009

quarta-feira, julho 29, 2009

melting pot

No princípio era o caldeirão e toda a gente vivia em Babel, uma espécie de centro comercial 'à la antiga'. Acho que até tinham loja do cidadão e tudo. Depois veio a invasão dos marcianos, que posteriormente havia de inspirar Átila, o Huno, e foi um salve-se quem puder, assim ao jeito do Dia da Indepêndia, 5º Elemento e por aí. Tipo, a gente sabe o que é um filme de acção, com um mínimo de enredo (não porque não haja história ou o que contar, mas porque o contador de serviço está a empatar ou então, de má fé porque a equipa dele perdeu o derby, resolve saltar todas as partes verdadeiramente significativas enquanto se embrulha com um KFC à frente do argumento). Nesta história de Babel foi assim que sucedeu, nem recortes de jornal nem pedregulhos gravados deixaram grande coisa. Também... Para os fãs das invasões marcianas, basta saber-se que o fogo veio do céu e que há algumas hipóteses dos invasores chegarem de vermelho... Pois, mas como ia dizendo, depois de Babel, com aquele fogo de artifício todo, os únicos senhores disponíveis eram (não os MIB, que esses vestiam de preto) os de cinzento, uma raça que resulta de um híbrido que ficou a meio caminho entre os chatos e os mangas de alpaca. Mas, adiante, que este conto ainda é grande. Os senhores cinzentos inventaram uma coisa que se chamava a Idade Média que, na primeira versão, era a Idade Medíocre. Só que para o povo entender era mais fácil abreviar e assim sempre tinham mais tempo para apreciar a realíssima chatice a que os votavam os homens de cinzento. É claro que os chatos também têm as suas vaidades. Depois de nos terem feito engolir toda a casta de tédios na forma de normas religiosas, cruzadas para equilibrar a demografia e queimas de bruxas que eram assim que a modos uma espécie de revista à portuguesa, só que ao vivo e a cores porque nessa altura ainda não se tinha inventado a televisão sem cheiro (e para quem estava habituado ao fedor da urina na rua e na roupa só podia ser mesmo com cheiros pró fortito...), depois, como dizia eu, destas políticas de valor artístico duvidoso, o mercado foi abaixo, claro está. Entrou-se então numa fase de recuperação em que os cinzentões aproveitaram para lançar a Renascença, que não passou, na verdade de uma manobra de diversão para poderem andar com umas corzitas mais gabirús, assim com a assinatura do Da Vinci, um antepassado do Versace que teve de vender a patente das máquinas voadores ao senhor da Virgin (que agora anda de balão só para contrariar). Enfim, depois disso, ainda houve uns foguitos de artifício com o senhor Henrique oitavo, assim chamado porque as suas respectivas nunca chegaram sequer aos quartos de final nem às semi-finais, que fazia com as pikenas o que os ingleses hoje tanto criticam aos árabes. Isto tudo para chegar a um tipo baixinho e com ar pindérico que era contra o 'melting pot' e tinha a mania de dobrar as pontas das cruzes. Os americanos, que sempre foram contra essas mariquices, inventaram o 'melting pot' deles e franchisaram-no pelo mundo inteiro. Só que se descobriu que afinal aquilo era um esquema de pirâmide, ainda por cima com um defeito de fabrico que anda para aí a rebentar pelas costuras. Ai... esqueci-me de traduzir: à portuguesa, o 'melting pot' é outro híbrido, um arraçado de sopa de cozido e chuva de pedras, em que a gente é que apanha com os calhaus enquanto os da colher rapam os fundos. E agora já não me lembro a propósito do que é que isto vinha...

(publicado pela primeira vez em 2004-03-16 15:07:00)

terça-feira, fevereiro 12, 2008

nosthalgia

I know I don't want you but it feels good this nosthalgia about you a passion seed left behind never giving you up sometimes it fills up our heart sometimes our eyes with tears it's no sadness no only nosthalgia of how I felt for you for me for us I remember it was strong intense sweet deep and is no longer it still lives in the memory a phisycal sensation that frees itself and spreads all over the body and comes with tears yes I low my eyes when it happens and walk it around by myself and go on with my life it keeps me company this nosthalgia for it comes along by my side a ideal image of you in a parallel universe that is a perfect match with my own there you have the perfection we dream of when we fall in love there you have the realtionship we dreamt of everytime we fall in love there you have the relationship we imagine for ourselves it exists after all in a limbo whre everything becomes possible and I do believe we forge our ties in a time that carries ethernity within I sigh when nosthalgia comes and reminds me of all sure things and reasons forgotten in small fights and I also recall the fantasy where I imagined you that is so closely related to the nosthalgia of you together they are like two sisters two halves of the same entity only parted by random ocasion for the first one dream us before and the other after they must be twin souls do you see after all how possible it is even when in the middle rests the meeting the explosion that leaves no room for nothing else but the fire that burns us out and everything else is a painful birth a restless fight in the muddy life which is so unlike our love a safe harbor useless fight as when nosthalgia comes we know love goes on is not lost is right by our side the shadow that follows us through life if you turn around you can see it glued to you only most of the time you don't pay attention you don't think of it but it's all right because it is forever and perfect and just like the first dream

quarta-feira, fevereiro 06, 2008

o ano do rato

Amanhã começa o Ano do Rato que é a celebração mais longa do calendário chinês. Entramos em 4706 e como os meses chineses se regulam pelo calendário lunar, começam sempre no dia mais escuro de cada mês. As festividades iniciam-se portanto no primeiro dia do mês e continuam até ao 15º, quando a Lua está mais brilhante.
Hoje, em Londres, começa uma série de 100 eventos pela China que se estendem até Abril:

6 Fevereiro:
- Luzes em West End Lights. Oxford Circus anima-se com o brilho das exóticas lanternas chinesas.
- Lançamento de Lu Chunsheng: exposição retrospectiva na Asta Gallery até Março.
- China em Londres no ZSL London Zoo. Tours especiais em torno do London Zodiac até 6 deAbril.

7 Fevereiro:
- Dança dos Leões em Chinatown a partir do meio-dia
- China Late: Exposição de pinturas chinesas no British Museum - das 18h30 às 21h00

10 Fevereiro:
- O Grande Desfile: The Strand até Trafalgar Square. A partir das 11h00
- Fogo de Artifício . Leicester Square. 14h00 e 17h00
- One Thousand Hands Bodhisativa apresentado pelo China Disabled People's Performing Arts. Her Majesty's Theatre, Haymarket. 16h00 às 19h30.
- Chinese Tales and Mask Art - sessões de workshop e narração de histórias. National Portrait Gallery. 11h30 e 14h00.

13 Fevereiro:
- Beijing Dance, Drama & Opera (BDDOH) em Stratford. Stratford Circus, Theatre Square, E15. 13h00 e 19h30.

14 Fevereiro:
- Beijing Dance, Drama & Opera (BDDOH) no British Museum. das 13h30 às 14h30.
- Literatura chinesa contemporânea: Xiaolu Guo eYiyun Li. Purcell Room, Southbank Centre. 19h45.
- Beijing Modern Dance Company (BMDC). Royal Opera House. 19h30.

17 Fevereiro:
- Celebração do Novo Ano Chinês. Museum in Docklands. 13h00.
- Karaoke Chinês. Museum in Dockland.11h30.

19 Fevereiro:
- Prova de chá chinês: Museum in Docklands. 12h30, 14h00 e 15h00.

21 e 22 Fevereiro:
- Chinatown Arts Festival: Modern Music at Chinatown colabora para a semana da China em Londres com os melhores hip hop rappers de Beijing e artistas chineses do Reino Unido: Dragon Tongue Squad, British Chinese scratch-artist DJ Phat e o guitarrista de flamenco Suki Mok Dragon Tongue Squad, DJ Phat e Suki Mok. Linbury Theatre, Royal Opera House

Mais eventos:
Domingo começam iniciativas de Arte chinesa, gastronomia e tradições da série de 100 eventos pela China em Londres, a maior celebração da cultura chinesa no Reino Unido, patrocinada pelo Mayor de Londres e pela London Chinatown Chinese Association, entre outras organizações da cidade.

segunda-feira, fevereiro 04, 2008

em frente


















parece-me bem deixar aqui votos a verde e vermelho para este ano e para este País

segunda-feira, janeiro 28, 2008

no rio do bispo
















Há mais de um ano que não vinha aqui. Pus-me a andar para norte e eis-me chegada ao Rio-do-Bispo. Bishop's Stortford, aqui para os lados da Anglia.

quarta-feira, janeiro 03, 2007

usos e abusos


aqui há tempos o passadiço construído à beira-mar entre o Porto e Espinho fazia as delícias dos amantes das caminhadas. meses depois, transformou-se no jardim das mil-e-uma-noites da prostituição masculina. vejam bem: já não basta estar à espera de um autocarro numa paragem ao pé da praia e ver um carro parar para nos perguntar quanto levamos; agora temos de gramar o vaivém de homens e rapazes por toda a praia, tendo o cuidado de evitar as horas e as zonas mais concorridas pelos predadores do sexo, não vá o diabo tecê-las e a mesma necessidade que leva algumas alminhas a prostituir-se fazer com que se tentem a roubar-nos os parcos pertences que se levam a passeio pela praia. juro-vos por tudo que, mesmo sabendo que a coisa está má, nunca imaginei que houvesse tanto comércio de carne entre a população masculina local.

sexta-feira, dezembro 15, 2006

tenho andado com sono

tenho andado com sono. é a mais pura da verdade. quando tenho de escrever alguma coisa dá-me o sono e fico meses a jiboiar à espera que as ideias se componham na cabeça. depois salto para as teclas e não há problema.
isto só para vos dizer que sim, que é em livro que vai aparecer a viagem a moçambique.por isso não adianta escrever aqui. apanhei montes de sol e os banhos de mar foram espectaculares. o camarão e a lagosta comem-se ali como o bitoque e o hamburguer. e também se come um peixe espada fabuloso. e ao lado estão as crianças a olhar para nós com ar de quem não come há meses.
papaias. na estrada. é o que comem a maior parte das vezes. e castanha (de caju) que também vendem, com os bolinhos de sura e as conchas enfiadas nuns fiozinhos que têm cara de se partirem logo na primeira semana de uso.
não acredito na paz em países assim. há 31 anos que não punha lá os pés e não mudou nam a vírgula. até essa lá está, poupadinha, para não se gastar. de repente, um país enorme pode ficar pequeno, pequeno, como as mentalidades de quem por lá anda. e não é que faz impressão ver as casas maiores trancadas, com correntes nas portas, à espera que alguém as use assim que a inveja deixe (algum dia) de consumir os prováveis locatários? o que não é para uns não é para ninguém. ai, ai...

sábado, agosto 26, 2006

contagem decrescente


Daqui a nada estou nas Pedras Rubras a caminho de Moçambique. Programa de viagem: Inhambane via Maputo, com paragem em toda as praias, do Xaixai ao Tofo.

Talvez tenha tempo para contemplar uma visita ao Krugger Park e ao festival de Marimbas de Zavala.

Não dispensável: caril rosa de caju e pão de sura; goiaba doce e achar de manga; pôr do Sol na Ponte de Cais. (com um bocado de sorte, uma incusão às ateiras da casa do bispo de Inhambane...)

Vou levar o moleskine, claro, para notas e esboços; vários blocos de papel de aguarela e várias Cotman's Sketchers' Pocket Box.

A máquina fotográfica; calções, fato de banho, chinelas, óculos escuros e panamá; repelente para insectos e MP3.

segunda-feira, agosto 21, 2006

for once in my life

Na voz da Vonda Sheppard:

FOR ONCE IN MY LIFE

For once in my life
I have someone who needs me
Someone I needed so long
For once unafraid I can go
where life leads me
And somehow I know I’ll be strong
For once I can touch
What my heart used to dream of
Long before I knew
Ooh, ooh, ooh, someone like you
Would ever dream of makin’ my dreams come true
For once in my life
I won’t let sorrow hurt me
Not like it’s hurt me before, oh
For once I have something
I know won't desert me
‘Cause I’m not alone anymore
For once I can say
This is mine, you can’t take it
Long as I know I’ve got love I can make it
For once in my life
I’ve got that someone who needs me
Mmm...hmm...hmm...
For once I can say
This is sho’ nuff mine, you can’t take it
Long as I know I’ve got love
I can make it
For once in my life
I’ve got that someone who needs me
Oh, yes, she does
I’ve got that someone who needs me
She told me this mornin’ that she needed me
Mmm...mmm...I believe

sábado, agosto 12, 2006

Cá estamos de novo


há uns tempos desloquei-me daqui, fui dar uma volta, por causa dessa mania que o blogspot tem de mandar os comentários para o espaço. vou experimentar mais uma vez mas, se continuam, mando-os eu para o espaço. esta coisa dos blogues é muito viciante, uma espécie de febre parasita que se instala e não nos permite outro tipo de raciocínio que os dos posts. rendo-me, claro, porque isto parece que me está na massa do sangue. vamos ver o que dá.

sexta-feira, março 19, 2004

Em mudanças

Estou em mudanças, para um bloguinho de mais simples operação. Se quiserem seguir-me, estou no http://manchinha.blogs.sapo.pt. E gostava de adicionar o endereço dos vossos super interessantes blogues à minha página. Por isso, em querendo, façam o favor. Até já.

Manchinha (moi) http://manchinha.blogs.sapo.pt

sexta-feira, março 05, 2004

Há villas que não são nada boas

Dar às de vila diogo, vilas ou vilões, violões, violações, adopções - é tudo uma questão de opções, pelo menos para alguns vilões e para algumas vilas menos boas.
Convenhamos, nascer numa família de poucas posses, diminuído mental, raquítico ou com qualquer outro defeitosinho menos próprio não é propriamente uma opção. Por que será, então, que nascer senhor ou senhora de uma orientação sexual diferente da socialmente estabelecida, tem de ser uma opção?
Não o sendo para muitos, é-o no entanto para quem, em altos cargos públicos... Corrijam-me se me engano, mas alio sempre esses cargos públicos a uma noção de serviço que parece manifestamente ultrapassada, não fora serem esses mesmos cargos também pagos pelo erário público daqueles sobre quem caem os juízos menos acisados de quem ocupa os ditos.
A um tal Luís me apetece dizer que opção não é viver uma orientação sexual diferente, mas baixar os olhos e não reivindicar uma cidadania de pleno direito por medo de retaliações maiores de luízes menos iluminados que entendem prestar um serviço menor àqueles que também contribuem para pagar as suas contas de electricidade, água e gás ao fim do mês.
Opção é não ser um arrogante detentor da verdade única em cargos que exigem, sobretudo, bom senso, noção dos direitos fundamentais de qualquer ser humano e respeito por todo e qualquer cidadão.
Opção é não fazer aos outros o que não gostaríamos que a nós nos fizessem.
Opção é não abusar de um cargo para debitar irresponsabilidades.
Opção é pintar a cara de preto por ser tão incompreensivelmente inconsciente a ponto de reclamar aleivosias que tão profundo impacte têm sobre pessoas que não escolheram ser o que são e o são, apenas, não devendo por isso envergonhar-se ou achar-se com menos direitos que os outros.
Opção é respeitar as crianças que já vivem e sempre viverão com os seus pais e mães de orientação sexual diversa e que tanto se esforçam, como pais, para o melhor proporcionar aos seus filhos.
Opção é não acicatar a opinião pública com estigmas que tanto pesam sobre essas crianças, que não precisam de ser lembradas, por mais um vilão, que a sua aceitação depende do silêncio que consigam manter sobre a condição dos seus pais e mães.
Opção é não esquecer os filhos de pais e mães de orientação sexual aceite, que sofrem toda a espécie de agressões e violentações psicológicas e físicas durante o seu crescimento e, apesar da nula atenção que merecem aos luízes e outras eminências pardas e autoridades pseudo-zeladoras dos direitos das crianças, sobrevivem como adultos saudáveis, equilibrados e dignos.
Opção é reconhecer que determinados indivíduos têm toda a capacidade para cuidar e educar crianças felizes, independentemente da sua orientação sexual.
Opção é pegar no papel e no lápis e fazer, em público, as contas de quanto recebem determinadas instituições por criança que abrigam e relacionar esses números com a capacidade que as mesmas instituições têm para sobreviver e manter postos de trabalho.
Opção é discutir em público em que medida é que a 'renda' dessas instituições por criança acolhida influi directamente na decisão não permitir que haja 'demasiadas adopções' para garantir a sobrevivência das ditas instituições.
Opção é a decisão de manter o silêncio neste e noutros casos, tomada pelos responsáveis públicos, Governo, deputados e Presidente da República, quando uma questão destas vem a público.
Opção é perpetuar a vilania, a estupidez, a visão mesquinha, o atropelo de direitos, a sobranceria e a falta de princípios pessoais e colectivos.
Opção é atropelar os outros porque são menos, porque estão débeis ou porque têm medo.
Opção é ser luís sem luz, uligão em cargo político e praticar o analfabetismo primário numa posição que exige, senão um super-homem, pelo menos um sensato homem.
A propósito, num país em que os papás heteros são, na generalidade, socialmente incapazes - uma vez que não se exige deles a partilha efectiva de simples tarefas diárias como cuidar dos filhos, cozinhar, lavar a roupa, passar a ferro ou limpar o ranho e o rabiosque das crianças - por que raio de injustiça divina teremos um luís na presidência de uma comissão de adopção?

Oooops! Lá se foram os comentários...

pois, lá se foram mesmo...
por isso, se quiserem, mandem-mos por mail, que eu trato de os publicar.

domingo, janeiro 18, 2004

Tudo sobre balanças

Prometi a alguém um post sobre balanças e aqui vai.
Antes de me atirar a esses adoráveis mecanismos indiciadores de culpa para quem se submte à tirania do folião Júpiter (o implacável deus da sorte e do aumento da cintura), first things first, como dizem os outros, e já vão perceber porquê...
A receita do pudim de natal deixada nesta página por uma simpática comentadora foi o início de uma digressão ruinosa nas últimas duas semanas do ano passado que, graças ao generoso deus acima mencionado, se arrastou até hoje.
É que o malfadado pudim levou a três dias de judiciosa preparação de bacalhau, esfiado (peçam-me a receita, que é imperdível), canja, rabanadas, sonhos de abóbora, empanadilhas, bolo e mousse de chocolate, bolo Vicente, pão de ló (este é o melhor do mundo, garanto-vos), frutos secos, bolo-rei e outras miudezas de tremendo valor calórico que, graças às animadas conversas em família, se foram degustando até às cinco e seis da manhã, regadas com generosas porções de vinho tinto, verde, champanhe, chá e café.
Boxing day chegado (este é o dia 26, que os ingleses gastam a abrir as prendas das boxes que se acumulam no sapatinho, meia ou árvore de natal), a salvação consistia em ir até Lisboa e gastar as calorias em enérgicos passeios pela lusa metrópole.
Eis senão quando, antes da partida, surge um último convite para 'comer qualquer coisinha' e seguir viagem 'mais confortada'. Descodificação: quarto round de esfiado, bacalhau e guloseimas de natal - afinal, há que dizimar os restos...
Escusado será dizer que a viagem, já a altas horas da noite, se fez em grande tranquilidade e na companhia de mais sonhos de abóbora, filhós e empanadilhas, fatias de bolo que até metiam dó de apertadas que iam nos tupperware.
A primeira paragem, em casa de família, deu origem a uma calorosa troca de cumprimentos e de iguarias: já provaste as minhas empanadilhas? estes sonhos foram feitos pela tua neta... não querem uma fatiazinha de peru? vai lá buscar o recheio que isso assim não tem graça nenhuma! o teu bolo ficou mais fofo que o meu... estes doces de leite e coco foram feitos pelo teu sobrinho. olha, vê lá como ficaram os mexidos...
Pelas duas e meia da manhã a única salvação seria um cross das Amendoeiras entre Cascais e Carcavelos, que não chegou a fazer-se por coma técnico dos candidatos a atletas - a soma de horas de sono dos últimos cinco dias pouco ultrapassava 600 minutos.
Os dias seguintes, planeados como uma tranquila estada entre a cama, os passeios à beira-mar e a visita de algumas jóias da capital, rapidamente se reformularam em jantar em família-italiano à lapa-ceia francesa-jantar de fim de ano-jornada gastronómica alentejana-sabores indianos-jantar íntimo com uma dúzia de esmerados pantagruéis.
Depois desta visita de gourmets ao Sul, o regresso às terras nortenhas significava, em princípio, o retorno à frugalidade. Ingenuidade da minha parte...
Nestas coisas há que contar com 'qualquer coisinha preparada à pressa' para receber os viajantes extenuados, o jantar das janeiras, parcimoniosamente dividido em três partes (família - partes I e II, amigos - partes I e II, e digressões domésticas de trocas tardias de presentes - partes I, II, III e IV).
Last, but not least, um jantar de aniversário com diversas provas a prestar: a dos salgados, a dos doces e... ai, paro por aqui!
A partir de amanhã estou em re-hab. Dois litros de chá de seiva por dia até dissolver as barreiras anatómicas que se interpõem entre mim e a roupa criteriosamente escolhida há dez quilos atrás.
E agora entramos na parte das balanças.
Enfrento penosas decisões:
Devo subir para o engenho todos os dias de manhã e chorar de desespero, ou beber os meus dois litros durante oito dias e roer as unhas até me decidir a enfrentar de novo o veredicto dessa malfadada medidora de infâmias?
Devo acordar mal disposta e manter-me azeda e mal-humorada, ou começar a ter visões zen e sorrir beatificamente sempre que alguém passar por mim com uma taça de flocos embrulhados em iogurte?
Devo trancar-me no quarto e submergir ao fim de oito dias, ou arriscar enérgicos passeios à beira-mar para afastar os maus espíritos que acodem aos deprivados de ingestão de sólidos?
E por que balança optar: a electrónica, que só anuncia pulos de meio quilo para a frente e para trás, a velhota, que oscila mais quilo menos quilo e me deixa arrasada de dúvidas, ou a do médico, que me irrita, muito decididamente, porque tem obviamente dois quilos a mais do que qualquer outra?
Para que é que eu prometi um post sobre balanças? Por que é que o hipertiroidismo não nos dá nas festas? Por que é que o Governo não atribui um subsídio de compensação para quem passa a vida a pôr e a tirar umas arrobas de cima, deductível nos impostos e isenção de IVA e a obrigatoriedade de um XXXM em vez do discrimidador XXL?
(Já a seguir: posting "Calorias Zen, em 10 lições sem mestre")